Afinal, a Psiquiatria é feita de remédios?
Dificilmente encontraremos um Psiquiatra convencional desdenhando de suas armas. Seria, ao meu ver, algo equivalente a um ourives desprezando seu precioso ouro. Porém, equivoca-se aquele que presume que a Psiquiatria se compõem apenas de uma boa dose de farmacologia. Um remedinho aqui, um sedativo ali e tudo resolvido. Não é bem assim...
A base de nosso trabalho é constituída sobre um alicerce reforçado de confiança e troca. A consulta do Psiquiatra não começa pelo estabelecimento de um tratamento químico, mas pela formação de um laço, de uma aliança que permitirá ao paciente depositar em seu médico-ouvinte todas as suas aflições e sofrimento. Muitas das vezes, essa é a parte mais importante e gratificante do nosso trabalho.
Porém, é verdade também que a grande maioria dos transtornos que tratamos demanda o uso de medicação. Já avançamos muito e as pesquisas são capazes de demonstrar desordens neuroquímicas tratáveis, como por exemplo, a falta de Serotonina nas sinapses, que pode ser novamente equilibrada após uso de antidepressivos.
Então, após o vínculo estabelecido ter permitido ao profissional alcançar a ordem dos sintomas, a prescrição ocorre. Devemos lembrar que esses remédios objetivam sempre a melhora do paciente e o alívio da dor psíquica, jamais a anestesia e a anulação dos sentimentos. PACIENTE SEDADO NÃO É PACIENTE TRATADO!
Infelizmente a Psiquiatria tem até hoje uma imagem deturpada de pacientes-zumbis, sonolentos, "babando". E muitas vezes as pessoas não nos procuram justamente por medo de assim se tornarem. Eis um erro histórico... e que deve ser combatido!
Psiquiatria de qualidade começa pela arte da escuta apurada, de um investigador sensível, capaz de empatizar com o sofrimento alheio. Segue com um planejamento terapêutico baseado em anos de estudo e termina com o reestabelecimento da saúde mental do indivíduo, que seguirá sua vida, como qualquer outro.